Monday, August 20, 2007



“Todas as línguas derivadas do latim formam a palavra ‘compaixão’ com o prefixo ‘com’ e a raiz ‘passio’, que originalmente significa ‘sofrimento’. Em outras línguas, por exemplo em tcheco, em polonês, em alemão, em sueco, essa palavra traduz por um substantivo formado com um prefixo equivalente seguido da palavra ‘ sentimento’ (em tcheco: ‘soucit’; em polonês: ‘wspol-czucie’; em alemão ‘mit-gefühl’; em sueco: ‘medkänsla’).
Nas línguas derivadas do latim a palavra ‘compaixão’ significa que não se pode olhar o sofrimento do próximo com o coração frio; em outras palavras: sente-se simpatia por quem sofre. Uma outra palavra que tem mais ou menos o mesmo sentido, piedade (em inglês ‘pity’, em italiano ‘pietà’ etc.), sugere até uma espécie de indulgência para com o ser que sofre. (...)
É por isso que a palavra ‘compaixão’ em geral inspira desconfiança; designa um sentimento considerado de segunda ordem que não tem muito a ver com o amor. Amar alguém por compaixão não é amar de verdade.
Nas línguas que formam a palavra ‘compaixão’ não com a raiz ‘passio’, “sofrimento”, mas com o substantivo ‘sentimento’, a palavra é empregada mais ou menos no mesmo sentido, mas dificilmente se pode dizer que designa um sentimento mau ou medíocre. A força secreta de sua etimologia banha a palavra numa outra luz e lhe dá um sentido mais amplo: ter compaixão (co-sentimento) é poder viver com alguém sua infelicidade, mas é também sentir com esse alguém qualquer outra emoção: alegria, angústia, felicidade, dor. Essa compaixão (no sentido ‘soucit’, ‘wspol-czucie’, ‘medkänsla’) designa, portanto, a mais alta capacidade de imaginação afetiva, a arte de telepatia das emoções. Na hierarquia dos sentimentos, é o sentimento supremo.”