"Àquele que dorme sem sono
Os teus corpos, Um de Carne e Outro de Sombra,
envolve em óleos
pois são dois, e o segundo é mais real
É preciso ver num sonho
a paisagem das verdades
onde insetos vêm pousar em nossas mãos
Há palavras que os homens não dizem
Há águas tão amargas,
filho,
que se recusam a devolver às fontes
as antigas possibilidades musicais da espécie
Mas as luas da febre
estão passando
sobre os lugares onde a sombra humana ainda irá passar
Um longo caminho não é sinal de eternidade
Ninguém ainda foi ouvir o silêncio das estrelas
E não ter colhido o mel,
a um murmúrio de distância dos teus lábios,
salgou ainda mais as colméias eternas
É lenta a economia daqueles que aqui esquecem o sabor do sal
E há uns que temem a queda das unhas no inverno,
e há outros que pararam a vida
numa estação vazia
É preciso ir à paisagem das verdades: Insetos
pousariam
em nossas mãos: Os ouvidos humanos
são cavernas escuras
Agora nascerão raízes,
que isso aconteceu,
que foram caindo da nossa memória
a polpa e a seiva, tingidas de vermelho
Um futuro de rodas que já não rodarão
para as colheitas do destino
Entrega o nosso trem ao delírio de uma floresta
virgem a cada dia
E a voz que te diz isso:
ao menos uma vez
teremos o ferro do nosso dispensável coração
Então, por que não semear de mãos vazias?"
(Não sei o autor)
Morre lentamente
Morre lentamente,
quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música,
quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente,
quem destrói o seu amor-próprio, quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente ,
quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajetos, quem não muda de marca,
não se arrisca a vestir uma nova cor, ou não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente,
quem faz da televisão o seu guru.
Morre lentamente,
quem evita uma paixão,
quem prefere o negro sobre o branco e
os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções,
justamente as que resgatam o brilho dos olhos,
sorrisos dos bocejos,
corações aos tropeços e sentimentos
Morre lentamente,
quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não se permite pelo menos uma vez na vida fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente,
quem passa os dias queixando-se da sua má sorte ou da chuva incessante.
Morre lentamente,
quem abandona um projeto antes de iniciá-lo,
não pergunta sobre um assunto que desconhece,
ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.
Evitemos a morte em doses suaves,
recordando sempre que estar vivo
exige um esforço muito maior que o simples fato de respirar."
"....A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade.
A dor é inevitável. O sofrimento é opcional."
CDA