"Passei o feriado em casa. Dormindo na minha cama, com a minha mãe cozinhando para mim, saindo com as minhas amigas. Às vezes, parece que estou aqui em São Paulo de férias. Que logo tudo vai voltar ao normal, vou morar em casa de novo (todos os dias) e meu pai vai me levar de carro para a aula, no Drummond, em Lorena.
Aqui eu moro em um pensionato, perto da faculdade mesmo. Foi a melhor solução que meus pais encontraram no começo desse ano, já que eu não conhecia ninguém em São Paulo e não ia alugar um apartamento para morar sozinha, all by myself. Só aceitei porque sabia que era uma medida provisória e que, logo, a Nathalia viria ficar comigo (ela também se mudou para cá para estudar). No começo foi chato, fiquei sozinha e triste. Mas agora eu me acostumei, tudo graças às meninas que moram aqui comigo.
Éramos seis: a Lú, a Ana Cecília, a Lídia, a Ingrid, a Patrícia e eu. Todas da Cásper. Mais tarde chegou a Ná, que veio fazer cursinho. E a Lú foi embora (para o Rio). Se não fossem essas meninas, não sei como teria me virado aqui. Juntas acordamos, tomamos café, vamos para a aula, voltamos, almoçamos, saímos, vemos filmes, cozinhamos, dormimos. Juntas temos "ótimas idéias" (sabe, aquelas que sempre parecem boas na hora mas acabam não dando certo), dublamos novelas com foinhas, tiramos fotos ridículas, temos a Quinta Freira Gorda (que nunca é na quinta), planejamos viagens para o Hopi Hari, hotel fazenda, Pindamonhangaba, passeios no Parque da Mônica, MTV, Bill da Pizza. Com elas aqui, eu nunca me sinto sozinha (mesmo quando eu quero ficar sozinha).
É a Ingrid que anda com uma alpaca na cabeça, que ela caçou em Cingapura no período Entre Guerras, e me chama de "sua labradora", a Lídia sou-revoltada-mas-sou-ciumenta-e-amo-vocês-buzuzus que precisa perder 3kg para a agência de modelos (e tira as esperanças de todo o resto da humanidade com isso, claro, porque se ela precisa emagrecer, nós precisamos nascer de novo), a Ana Cécil que acreditava que o terremoto (tremeu tudo aqui) era o Exorcista, a Patrícia e os mil "cachorrinhos mais lindos e fofos do mundo" que vemos de manhã, indo para a aula, a Lú (in memorian) que faz a maior falta do mundo.
E é a Ná, meu porto seguro nessa cidade grande e desconhecida, que divide o quarto comigo e me conhece desde os oito anos. Que come o dia inteiro e fala para minha mãe que eu não me alimento direito. Que pega o ônibus todo final de semana comigo. Que vai à Americanas para comprar kit de sobrevivência básico (meia-fina, DVD da banca de promoção e mini Pringles sabor sour and cream) e depois flertar com gays no supermercado (fato que não sabíamos que eram gays). É a Ná que me dá abraços carinhosos e faz planos para o nosso futuro.
Muito obrigada, meninas, por estarem comigo. Sem vocês, eu não estaria aqui hoje (ou estaria extremamente deprimida). Vocês foram a melhor coisa que eu conheci aqui em São Paulo.
Às sete a gente sobe para comer, então. Vocês passam no meu quarto?"
Da Aba Luiza, sobre nós (óh)
Aninha