"FOLHA - Quando conversamos, em 2002, por ocasião do lançamento de sua biografia, "Tempos Interessantes", o sr. disse que considerava a América Latina um "fantástico laboratório de transformações históricas". Ainda pensa assim?
HOBSBAWM - Sim, ainda acho que se trata de um continente em que é possível acompanhar desde o momento em que a natureza foi dominada e as pessoas se estabeleceram até a rápida modernização, industrial e da sociedade, ao mesmo tempo. Algo que em outros lugares levaria gerações na América Latina acontece de modo muito acelerado. Visitei o Brasil pela primeira vez há 40 anos. E hoje observo que o país mudou dramaticamente.
FOLHA - Para o bem?
HOBSBAWM - Deixando de lado juízos de valor... O que me impressiona hoje é perceber que antes eu considerava 40 anos um tempo muito longo na história, e agora sei que cabe numa vida humana. Para um historiador, a América Latina, o Brasil, são lugares onde você pode acompanhar um processo inteiro. Como foi importante para Darwin em relação à biologia, acontece da mesma forma para a história. Mas o que continua sendo um mistério para mim é por que, apesar de seu grande potencial, a América Latina tenha permanecido à margem da história ocidental e aí continua. E é desse modo, também, que está entrando no século 21.
FOLHA - O sr. não vê perspectivas?
HOBSBAWM - Não para a América Latina como um todo, possivelmente para o Brasil."
(Entrevista de eric Hobsbawm a Folha esse domingo)"Não me lembro de ter despertado de forma tão rápida e lúcida, como na manhã do dia 11 de setembro de 1973.
(...)
Os rumores e o que se ouvia nas emissoras de rádio de Santiago eram confusos, mas esclarecedores: o golpe começara para valer. Apesar de considerá-lo inevitável, fiquei abismado. Em 1964, no Brasil, me ocorrera algo parecido. Parecia incrível que o previsto estivesse acontecendo, de forma tão clara e definitiva.
Acabei saindo de casa, não me lembro para onde. O movimento de carros e de gente era intenso e nervoso. No trânsito, cruzei somente com uma pessoa conhecida: um sacerdote jesuíta ligado à "Iglesia Joven" que nos casara quase seis anos antes, deixara o sacerdócio pouco tempo depois e fora, então, curiosamente meu aluno num curso de pós-graduação. Em certo momento, procurei chegar perto da sede do governo, o palácio de La Moneda. Não foi possível, mas, por volta de meio-dia, da avenida que leva ao palácio, a um quilômetro de distância, pude ver a fumaça do bombardeio."
(Trinta Anos Essa Manhã, José Serra, 11 de setembro de 2003 Folha de São Paulo)
(foto tirada da internet)Nem tanta ordem e progresso, e mais esforço e igualdade. Não só para nós, pero también para nuestros hermanos de toda la America.