Artigo senador Cristovam Buarque - Acordem, meninos.
Pela primeira vez na história, a próxima geração terá menos oportunidades do que seus pais. Para começar, a crise ecológica dificultará a sobrevivência das gerações futuras. O aquecimento global fará a vida menos confortável, a desarticulação do clima levará à escassez de alimentos e água, os recursos naturais ficarão mais raros e o conforto, mais caro.
Além disso, será cada vez mais difícil conseguir emprego e bons salários. O avanço técnico, que trará muitas vantagens para a saúde de quem puder pagar pelo tratamento, vai, ao mesmo tempo, desempregar e exigir alta formação para os que terão emprego. Diante dessas dificuldades, os jovens de hoje têm algumas alternativas.
Alguns, como já acontece, vão cair na marginalidade e usar o crime como forma de compensar sua dificuldade. Seus pais vieram do campo, com pouca instrução e conseguiram emprego graças a cursos simples que permitiram emprego. Agora os empregos são raros e exigem boa formação.
Outros, especialmente de classe média ou média alta, procurarão emigrar para o exterior, como seus pais fizeram, no passado, ao sair do campo para a cidade. Raros serão bem sucedidos. A maior parte sobreviverá em melhores condições do que no Brasil, mas de forma marginal, com subempregos, mesmo remunerados em dólar. Os que ficarem, terão bons empregos, mas sem o padrão de vida dos pais: casas e férias menores, mais bugigangas eletrônicas e muita incerteza.
Os poucos que tiverem oportunidade de bons estudos continuarão aqui e terão uma vida de alto padrão de consumo, participarão da economia global, viverão protegidos por sistemas de segurança e mandarão seus filhos, desde pequenos, estudarem em escolas particulares superprotegidas ou no exterior.
Não são futuros desejados para nenhum dos grupos e, ainda menos, para o Brasil. Por isso, é preciso escolher outra alternativa: lutar politicamente para mudar essa tendência. Votar nos mesmos e viciados políticos e partidos não mudará o rumo do Brasil nem a vida dos jovens de hoje. Não dará a eles um futuro a que têm direito. Tomar o poder por uma revolução que subverta toda a economia e a sociedade não é mais possível, não há modelo para se implantar depois, nem haverá força capaz de desmantelar o perverso sistema montado. E o resultado pode ser ainda pior. Nem os jovens vão querer a aventura do impossível, sem uma bandeira clara que os empolgue.
Mas há um objetivo tangível: exigir educação de qualidade para todos e construir a utopia possível neste momento - a garantia da mesma chance para todos. E fazer com que todas as escolas do Brasil tenham a mesma qualidade. A escola da favela, ou do campo, seja equivalente à do condomínio da cidade. Todos os professores bem remunerados, desde que dedicados, competentes e ensinando numa escola bonita e bem equipada, onde os jovens saiam do ensino médio preparados, com a mesma chance que os pais tiveram, no passado. Essa é a revoluçã o possível.Para isso, os jovens precisam se mobilizar dentro de suas escolas, nas ruas, via e-mail, por telefone, como seus pais fizeram pela democracia, por salários, pelo socialismo. Acordem, meninos, vocês precisam ganhar o direito à mesma chance. Precisam fazer uma revolução: Educação Já.
Estou ciente de que os meninos não querem acordar. Nem vão ler este artigo. Estão nas ruas, nos shoppings ou manipulados por partidos acomodados. Por isso, o título deste artigo deve ser: "
Acordem os meninos, vocês que leram". Antes que eles sejam soterrados nos escombros do futuro.
Cristovam Buarque * Professor da Universidade de Brasília, Senador pelo PDT / DF.